quarta-feira, 22 de julho de 2009
Pierrot
Ao cair do entardecer, em que púrpuras nuvens pairam no ar, antecedendo a cândida noite que se aproxima, o frescor vespertino evoca uma solidão desconsolável
O vazio parece pleno, mas uma plenitude do nada
Vazio que só pode ser nada
Posto que é cheio de não ser
Sorte daquele vivente, que só vive por viver
Sorte daquele doente, que só dói por doer
Sorte daquele eloqüente, que só fala por dizer
Sorte daquele inocente, que só perde por viver
Vagabundo maroto, em corpo de idoso, sua alma de moço dormita
Humilhado e choroso que por asco do mundo suas palavras vomita
Imbecil escandaloso, que por amor ou por ódio sua dor regurgita
Vagabundo doente, que por amor ou por ódio, desse povo e das gente, não querendo crer e assim crente, s'alma suicida
Sobe aos céus seu impulso domado, por amor ao pecado
Herege, Ateu, Narciso, Prometeu
Pelos seus afamado
Cala-te, teus murmúrios se assomam ao corpo indecoroso dos moços
Cala assim a tua embriaguez, em teu espírito burguês
Sois porcos, sois gente
03: 53
E é sempre esta tristeza,
Que chega sem aviso
Que transpassa meu peito e me torna vazio
São planos e enganos
Erros e acertos
Fugas e medos
É desconcertante, me atordoa
É humilhante me arrazoa
É algo sem sentido, aquilo que sinto
Indevassável, imensurável
Desmedido e desvairado
É este assombro que tem por única razão de viver a vida que se segue.
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